Bom, nós estamos jogando a aventura pronta (porém adaptada) de dungeons&dragons “Dragon of Icespire Peak”, que chamaremos aqui, em tradução livre: O Dragão na Torre de Gelo.
A aventura as written não conta com uma introdução de como os personagens se conheceram ou como chegaram a Phandalin, cidade central na trama. Então eu tomei a liberdade de escrever o seguinte prólogo:
“Bem-vindos à Forgotten Realms ou, em português, aos Reinos Esquecidos, bem-vindos à Triboar, uma das principais cidades comerciantes do Norte, cheia de agitação, de mercadores, caravanistas e outros viajantes. Bem-vindos à”Porta de Entrada para o Norte” como alguns habitantes locais gostam de chamá-la, muito embora inúmeras outras cidades também reivindicaram este título.
Triboar está localizada no Vale Dessarin, levemente ao sul de Neverwinter e bem mais para dentro do continente - estrategicamente posicionada numa encruzilhada de estradas importantes.
A cidade é rodeada por um relevo plano, com algumas poucas elevações naturais. O terreno é fértil e bastante adequado à agricultura, diversos camponeses e fazendeiros também habitam os arredores.
Hoje, o céu está limpo e o horizonte visível. É dia do Festival da Colheita e a cidade está bem movimentada.
Em uma praça, no centro da cidade um velho bardo entretém um grupo de crianças com suas diversas histórias do ‘mundo lá fora’.
“Conte aquela do dragão, conte aquela do dragão.” pede uma das crianças, que já ouviu o bardo diversas vezes antes.
As demais crianças concordam balançando as cabeças de cima a baixo, com um misto de medo e curiosidade.
O bardo respira fundo, toma um gole de sua cachaça, e dá um discreto sorriso antes de tomar uma expressão séria e sinistra. Ele começa:
“Há não tanto tempo assim, cerca de 150 anos atrás, um enorme réptil voador, de escamas duras como esmeralda, acordou na floresta e sentiu fome.” As crianças prendem a respiração.
“Então, ele deixou seu covil e alçou voo em direção à Costa da Espada. Primeiro ele passou por campos de gados, onde almoçou os melhores bois dos fazendeiros e numa bocada comeu suas ovelhas como sobremesa!” As crianças se entre olham mais uma vez.
“Mas isso não foi suficiente para o grande Dragão Verde. Dali, ele rumou para o mar, destruindo tudo por onde passava. Campos, vilas, cidades, tudo era empesteado com seu bafo verde e venenoso. Sim, nem todos os dragões soltam fogo.”
Algumas crianças concordaram, algumas crianças discordaram, e alguns adultos riram ao redor. O velho bardo continuou:
“Então o dragão descobriu algo que lhe agradou muito. Ele notou que, próximo da costa, estava a Alta Estrada, que até hoje liga Neverwinter à Baldur’s Gate. E ele também notou que esta era uma estrada muito movimentada, e logo pensou ‘hm, o rodízio está aberto’ e por anos caçou sobre a Alta Estrada, atacando, matando e se alimentando de quem ousasse passar por ali.”
Uma última vez as crianças suspiraram, pois já sabiam o que viria a seguir.
“Também por anos, ninguém ousou desafiar a enorme besta. Azdraka era seu nome, pois todos os dragões, assim como a maioria de nós, têm nomes! Até que um dia, surgiu em Neverwinter uma destemida guerreira, valente e descendente de antigos reis e rainhas, era Lady Tanamere…” “…Alagondar!” exclamaram as crianças animadas.
“Lady Tanamere Alagondar,” sorriu o bardo “ela reuniu os mais bravos guerreiros e por dias e dias caçou Azdraka. Eventualmente ela achou a trilha para seu novo covil, numa colina próxima da Alta Estrada.”
“Na calada da noite, Lady Alagondar e seus homens cercaram o covil e, se aproximando da entrada, Lady Alagondar bradou seu desafio. E o dragão aceitou. A besta saiu furiosa de dentro de sua caverna, expelindo seu bafo fumacento. A batalha durou horas e parecia que o dragão venceria, pois já havia dizimado quase todos os cavaleiros.”
“Mas a sorte estava com Lady Alagondar, e uma brava tempestade começou. A chuva forte dissipou o veneno verde. Azdraka voou e sobrevoou seus adversários uma última vez e, também pela última vez, deu seu rasante, pronto para abocanhar e engolir a cavaleira. Ela já estava cansada e muito ferida, mas num ato de extrema coragem saltou com tudo para dentro da boca do monstro, enterrando sua espada mágica de baixo para cima, perfurando o cérebro da fera, e a derrubando de uma vez por todas.”
As crianças comemoraram, todas fazendo o gesto de enfincar uma espada imaginária para cima.
“Lady Alagondar ainda conseguiu sair de dentro da boca do monstro, mas seus ferimentos eram mortais, e ela caiu ali mesmo, sorrindo, pois a besta estava aniquilada.”
Tão logo o bardo encerrou seu conto, uma das crianças gritou novamente: “Dragão, dragão!” e um dos adultos respondeu “ele já contou, agora uma outra…” mas a criança insistiu “Dragão, dragão!” apontando para os céus.
Um sino soou e um homem gritou, depois outro, e mais outro. “Dragão!”
Uma mancha branca surgiu no céu azul e chegou rápido a Triboar. Suas escamas alvas como as nuvens refletiam o sol como um espelho, e foi assim que Cryovain foi primeiro avistado pelo garotinho no centro da praça.
Pânico, caos e correria se seguiram, mas o destino estava traçado. Circulando a cidade, a enorme besta congelou todas as saídas aprisionando o povo num anel de gelo. Não havia para onde correr, o dragão os alcançava, congelava, matava, pisava e mordia.
Por fim, ele pousou na praça central, congelando crianças e bardos e cruelmente devorando seus pais.
Guardas se organizaram, e foram os primeiros a caírem. A cidade estava destruída e o dragão sorria no centro da praça. Foi aí que algo realmente inesperado aconteceu.
A voz do prefeito irrompeu em meio ao caos: “Resistam!! Resistam!! Contra-ataque, todos juntos! Vamos! Vamos!” Como num transe mágico, um senso coletivo de sobrevivência falou mais alto em Triboar, e os sobreviventes se uniram, com armas rústicas ou improvisadas, e atacaram o dragão em conjunto.”
Em termos de jogo, e seguindo a ideia de aleatoriedade do Realidados, eu decidi o seguinte:
Cryovain já se apresentou logo de cara, causando enorme destruição, para chocar e já criar um vínculo com os personagens. Triboar foi destruída e os personagens rumarão para Phandalin. E, mais importante, eu chamei os jogadores para essa sessão zero sem nenhum personagem.
Eu criei 100 cartas de personagens comuns da cidade, como cozinheiro, sapateiro, dona da estalagem etc.
Todos “level 0” com “–100xp”, CA 10, 1 ponto de vida e uma arma aleatória/improvisada, como galho de árvore, faca pequena, tijolos…
Quando o dragão branco pousou na praça, cada um dos 6 jogadores sorteou uma carta. Eles atacavam o dragão e o dragão os atacava de volta. Um golpe do dragão e aquele personagem morria. E o jogador sorteava uma nova carta.
Personagens level 0 nunca matariam de fato o dragão, mas eu determinei que o monstro fugiria após levar 175 pontos de dano.
E assim a luta seguiu, a cada morte de personagem uma nova carta era sorteada. E quanto, finalmente, o dragão acumulou dano suficiente, ele bateu em retirada, amaldiçoando todos os sobreviventes.
Esses sobreviventes (as cartas em mãos dos jogadores) serão os heróis da nossa campanha.
O Dragão matou 91 personagens – foi na risca.
Como vocês sabem, o “Nas Entrelinhas” gosta de estatísticas, então aqui estão os números de mortes por jogador
Jogador | Mortes |
---|---|
Thigass | 15 |
George | 17 |
Vinny | 16 |
Paulinha | 13 |
Pery | 15 |
Arthur | 15 |
e quantidade de acertos/erros críticos da nossa sessão zero.
Os 6 personagens definitivos foram:
Um vigia draconato verde;
Uma veterinária anã;
Um bêbado meio-elfo;
Um fazendeiro meio-elfo;
Um ator hobbit; e
Uma fugitiva tabaxi.
Eles serão apresentados nos próximos posts. Fiquem ligados!
- João, o GM.